terça-feira, julho 22, 2003

"Era mais um dia normal em minha vida, tudo corria bem, eu estava trabalhando com o que gostava, fazia meus cursos e enfim havia conhecido uma mulher realmente especial... Nesse dia trabalhei durante o dia e não tive curso a noite, aproveitei então e dei uma passada rápida na casa de minha namorada antes de ir jogar meu futebolzinho sagrado das quartas-feiras...
Estávamos começando a fazer planos de morar juntos, afinal tanto eu quanto ela já havíamos alcançado uma certa estabilidade financeira, nada mal para uma casal em que ambos tinham apenas 25 anos de idade e uma vida inteira pela frente, nos despedimos com um longo abraço e entrei no meu carro, é claro que tive que ouvir a recomendação de sempre - Tome cuidado - Já havia escutado tal frase pela manhã da boca de minha querida mãe, mas eu estava tranqüilo, meu futebol com a galera ficava à apenas 2 quarteirões da casa de minha namorada e meu carro não chama nenhuma atenção, é um modelo popular que nenhum ladrão iria querer...
Mas ao distraidamente parar no sinal naquela noite não reparei naqueles homens chegando de moto sorrateiramente ao meu lado... Era uma via de grande movimento mas isso não bastou para que eles colocassem a arma encostada em meu vidro... Logo eu que sempre estou ligado em tudo que acontece em minha volta, sempre ando com o vidro fechado e ainda fiz questão de colocar uma película escura em todos os vidros do carro para aumentar minha segurança... Nada disso adiantou... Lá estava eu defronte àquela situação... Lembrei dos ensinamentos de meu pai dizendo para entregar o carro, afinal o carro tinha seguro e podia ser recuperado mas minha vida não... Levantei as mãos e disse calmamente que iria tirar o cinto de segurança para sair do carro... Mas o rapaz que estava me assaltando estava mais nervoso do que eu e ao ouvir os carros buzinando atrás de mim se descontrolou e disparou a arma... Senti naquele momento uma dor indescritível, como se algo estivesse perfurando minha alma...
Permaneci sentado, não conseguia mexer meu corpo e derrepente tudo acalmou... Fechei os olhos e quando os abri estava dentro de uma ambulância do corpo de bombeiros, os médicos estavam apressados e nervosos... Engraçado, não estava sentindo dor, tentei conversar com eles mas ninguém me ouvia... Chegamos ao hospital mas os médicos já não estavam mais apressados, encontrei minha mãe chorando muito ao lado de meu pai, ele estava impassível, com uma expressão de dor muito forte em sua face mas nenhuma lágrima escorrendo... Meu irmão também estava lá e chorava bastante encostado em um canto qualquer... - Gente eu estou aqui... Tô bem... Pq vocês não falam comigo?!? - Tentei mais uma vez me levantar mas nenhum músculo respondia... Não, eu não posso estar morto... Tenho muita vida pela frente... Não fiz nada para tomar esse tiro... Nunca vi o rapaz que me atirou, nem sequer reagi ao assalto... Eu só queria jogar bola e ir pra casa dormir e descansar para mais um dia de trabalho... Não... Não pode ser... Quero casar, ter filhos... Viajar... Deixe-me viver... O que fiz de errado?!?
E quando percebo estou em uma capela... Meu parentes e amigos estão ao meu redor... Minha namorada me faz um carinho no cabelo e conversa comigo... Mas eu ali, completamente imóvel, sem nada conseguir falar... Como eu queria poder respondê-lá...
Não, não fechem esse negócio... Não quero ficar dentro desse caixão... Quero viver... Deixe-me sair daqui... Não posso estar morto... Tenho apenas 25 anos e muita vida pela frente... Quero estar com meus amigos, jogar bola com meu irmão, curtir o amor de meus pais, receber o carinho de minha namorada... Quero trabalhar e ter sucesso na vida... Estudei tanto para isso... Não me tirem essas possibilidades... Deixe-me viver... Não peço muito... Apenas quero VIVER..."

Esta é felizmente uma história de ficção, continuo graças a Deus vivo e com saúde... Curtindo minha família, meus amigos, trabalhando e jogando bola... Mas infelizmente foi baseada em uma história real, a morte do jovem Rodrigo Balsalôbre Damús de apenas 20 em São Paulo e é uma história muito verossímil e pode acontecer com qualquer um a qualquer momento e em qualquer cidade do Brasil... Não deixem nossos jovens se despedirem dos sonhos devido a essa banalização da violência... Não possibilitem que marginais como aquele que matou a jovem Gabriela do Prado Ribeiro e os que mataram o jovem Rodrigo Balsalôbre continuem impunes e possam rapidamente voltar as ruas...

Participem da campanha "Diga Não à Impunidade", acessem o site Gabriela Sou da Paz e colaborem... Basta apenas uma assinatura para que ao menos se consiga mudar algo... É claro que não depende somente disso, mas já é um caminho...


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